A LUTA CONTRA O CÂNCER DE MAMA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

THE FIGHT AGAINST BREAST CANCER: AN EXPERIENCE REPORT

 

Leticia Guedes de Almeida1 

Geane Silva Oliveira2 

Macerlane de Lira Silva3

Francisco José Oliveira do Nascimento Gomes4

 Ocilma Barros de Quental5

 

Resumo: Este artigo relata a experiência de uma senhora de 60 anos, residente em uma comunidade de baixa renda, que enfrentou uma batalha contra o câncer de mama. Inicialmente, a doença foi negligenciada e tratada com remédios caseiros, mas ao procurar ajuda médica, foi diagnosticada com câncer de mama avançado. Apesar das recomendações médicas, a paciente optou por não realizar o tratamento convencional, seguindo apenas cuidados paliativos. O apoio familiar desempenhou um papel crucial em suas decisões, influenciando sua escolha de recusar a cirurgia. No entanto, a paciente acabou desistindo dos cuidados médicos, destacando a necessidade de uma abordagem holística e do suporte contínuo para pacientes em situações semelhantes. Este relato ressalta a importância da conscientização sobre o câncer de mama, da detecção precoce e do acompanhamento médico adequado, bem como da necessidade de apoio emocional e psicológico para os pacientes e suas famílias durante todo o processo de tratamento.

 

1 Discente do curso de Enfermagem na UNIFSM.

2 Enfermeira, Docente do curso de Enfermagem na UNIFSM.

3 Mestre em Saúde Coletiva-UNISANTOS. Docente do Centro Universitário Santa Maria.

4 Discente do curso de Enfermagem na UNIFSM.

5 Enfermeira, Doutora em ciências da saúde,Docente do curso de enfermagem no UNIFSM.

 

Palavras-chaves: Câncer de mama; Relato de experiência; UBS.

 

Abstract: This article reports the experience of a 60-year-old woman, living in a low-income community, who faced a battle with breast cancer. Initially, the disease was neglected and treated with home remedies, but when she sought medical help, she was diagnosed with advanced breast cancer. Despite medical recommendations, the patient chose not to undergo conventional treatment, following only palliative care. Family support played a crucial role in her decisions, influencing her choice to refuse surgery. However, the patient eventually withdrew from medical care, highlighting the need for a holistic approach and ongoing support for patients in similar situations. This report highlights the importance of raising awareness about breast cancer, early detection and adequate medical monitoring, as well as the need for emotional and psychological support for patients and their families throughout the treatment process.

 

Keywords: Breast cancer; Experience report; UBS.

 


INTRODUÇÃO

 

O câncer de mama é uma das formas mais prevalentes e devastadoras de câncer enfrentadas pelas mulheres em todo o mundo. Esta doença insidiosa não apenas representa um desafio físico, mas também é um teste emocional, mental e espiritual para as pacientes e suas famílias. A jornada da luta contra o câncer de mama é uma narrativa complexa, repleta de altos e baixos, momentos de esperança e desespero, coragem e vulnerabilidade (Barbosa et al., 2020).

Essa luta começa com a detecção, muitas vezes marcada por uma descoberta chocante durante um exame de rotina ou por sintomas preocupantes que levam à busca por ajuda médica. A confirmação do diagnóstico de câncer de mama é um momento que abala profundamente a vida da paciente e de seus entes queridos, lançando-os em um turbilhão de emoções e incertezas sobre o futuro (Lima et al., 2020).

O tratamento do câncer de mama é uma jornada longa e desafiadora, que geralmente envolve uma combinação de cirurgia, quimioterapia, radioterapia, terapia hormonal e imunoterapia. Cada etapa do tratamento traz consigo seus próprios desafios físicos e emocionais, desde os efeitos colaterais debilitantes dos medicamentos até as preocupações com a perda da identidade feminina associada à mastectomia (Donnelly et al., 2018).

Além dos desafios médicos, as pacientes também enfrentam uma série de questões psicossociais, incluindo ansiedade, depressão, medo da recorrência e mudanças nos relacionamentos pessoais e profissionais. O apoio emocional e o cuidado holístico são essenciais para ajudar as pacientes a navegar por esses desafios e a se manterem resilientes ao longo do processo de tratamento (Barbosa et al., 2020).

A luta contra o câncer de mama não é apenas uma batalha individual, mas também uma luta coletiva que envolve toda a comunidade médica, familiares, amigos e organizações de apoio. O amor, o apoio e a solidariedade daqueles ao redor desempenham um papel fundamental no fortalecimento das pacientes e na promoção de sua recuperação física e emocional (Lima et al., 2020).

No entanto, mesmo com todo o apoio disponível, a jornada da luta contra o câncer de mama é marcada por momentos de dor, angústia e perda. Muitas pacientes enfrentam a difícil realidade da progressão da doença, da recorrência do câncer ou da perda de entes queridos para essa terrível doença. Apesar dos desafios enfrentados, a resiliência e a coragem das mulheres na luta contra o câncer de mama são verdadeiramente inspiradoras. Cada história de sobrevivência é uma prova da força do espírito humano e da determinação de viver plenamente, apesar das adversidades (Lima et al., 2020).

OBJETIVO

 

Relatar uma experiência vivenciada no acompanhamento de uma usuária da UBS com câncer de mama.

 

METODOLOGIA

 

O estudo adotou uma abordagem qualitativa para investigar a experiência de uma usuária da Unidade Básica de Saúde (UBS) na luta contra o câncer de mama. A participante foi selecionada com base em critérios de inclusão que consideravam seu diagnóstico de câncer de mama e seu histórico de interação com os serviços de saúde da UBS.

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas, permitindo à participante compartilhar livremente sua jornada desde o diagnóstico até o tratamento e os cuidados recebidos na UBS. As entrevistas foram gravadas e transcritas para análise posterior, garantindo a fidelidade das informações e a precisão na interpretação dos relatos.

Além das entrevistas, foram consultados registros médicos e outros documentos relevantes disponíveis na UBS para complementar e enriquecer os dados obtidos durante as entrevistas. Essa triangulação de fontes de dados contribuiu para uma compreensão mais abrangente da experiência da participante na luta contra o câncer de mama e sua interação com os serviços de saúde da UBS.

A análise dos dados seguiu uma abordagem indutiva, utilizando técnicas de análise de conteúdo para identificar padrões, temas e insights emergentes nos relatos da participante. Os dados foram codificados e categorizados de acordo com os principais aspectos da experiência da participante, incluindo o processo de diagnóstico, as decisões de tratamento, os desafios enfrentados e os aspectos positivos e negativos dos cuidados recebidos na UBS.

Para garantir a validade e a confiabilidade dos resultados, foram adotadas medidas para promover a credibilidade e a consistência dos dados, incluindo a revisão por pares e a busca por pontos de convergência e divergência nos relatos da participante. Além disso, foram respeitados os princípios éticos de pesquisa, garantindo o consentimento informado, o anonimato e a confidencialidade dos dados da participante.

 

RESULTADOS

 

A senhora em questão, de 60 anos de idade, residindo em uma área urbana e proveniente de uma família de recursos modestos, procurou a unidade básica de saúde acompanhada de sua irmã, relatando sintomas iniciais que incluíam uma protuberância inicialmente interpretada como uma “espinha na mama”. Ela compartilhou que, inicialmente, sua mãe havia tentado tratamentos caseiros, como a aplicação de chá e água de Rabelo na região afetada. No entanto, ao longo do tempo, essa protuberância aumentou significativamente em tamanho, despertando preocupações crescentes quanto à sua natureza e possível gravidade. Após buscar ajuda médica, a paciente foi submetida a exames diagnósticos, incluindo mamografia e ultrassom, que confirmaram um diagnóstico de câncer de mama avançado, com evidências de metástase para outras áreas do corpo.

A partir do diagnóstico, a paciente tomou a decisão de não seguir o tratamento convencional recomendado pelos profissionais de saúde, recusando-se a submeter-se a procedimentos médicos. Essa escolha foi influenciada, em parte, pelos conselhos de sua mãe, que advogava em favor de remédios caseiros como uma alternativa ao tratamento médico. Quando a paciente compareceu à unidade básica de saúde, recebeu prescrição médica para realizar procedimentos de limpeza no posto de saúde local, indicando a abordagem de cuidados paliativos para gerenciar os sintomas e proporcionar conforto à paciente.

Embora tenha sido recomendado que a paciente fosse encaminhada para atendimento especializado no Hospital Lauriano, ela recusou-se a aceitar esse encaminhamento, optando por continuar os cuidados na unidade básica de saúde. A paciente demonstrou uma dedicação notável ao comparecer diariamente para os procedimentos de limpeza no posto de saúde, apesar da progressão avançada da doença, que havia tomado conta de toda a mama e áreas circundantes. Durante o estágio do profissional de saúde, a paciente continuou a demonstrar esperança e determinação, comparecendo regularmente às consultas e procedimentos com um otimismo admirável.

No entanto, posteriormente, foi observado que a paciente desistiu dos cuidados médicos e não continuou a frequentar a unidade básica de saúde para os procedimentos de limpeza. Essa mudança de comportamento pode ser interpretada como uma consequência das complexas dinâmicas emocionais, físicas e sociais enfrentadas pela paciente ao longo de sua jornada com o câncer de mama avançado. Essas informações, corroboradas por relatos diretos e observações clínicas, destacam os desafios enfrentados por pacientes em situações semelhantes, ressaltando a importância de abordagens sensíveis e holísticas no tratamento do câncer de mama avançado.

 

DISCUSSÕES

 

A experiência da paciente em questão revela uma série de desafios enfrentados por mulheres de recursos modestos no acesso aos cuidados de saúde, especialmente quando diagnosticadas com câncer de mama. A demora em buscar ajuda médica devido à tentativa inicial de tratamentos caseiros, como a aplicação de chá e água de Rabelo, é um reflexo das barreiras socioeconômicas e educacionais que podem influenciar o diagnóstico precoce da doença. Como observado por Youlden et al. (2018), mulheres de áreas urbanas e com menor nível socioeconômico têm maior probabilidade de serem diagnosticadas com câncer de mama em estágios avançados, o que pode resultar em prognósticos menos favoráveis.

A decisão da paciente de recusar o tratamento convencional em favor de cuidados paliativos é um exemplo de como fatores culturais e de apoio familiar podem influenciar as escolhas de tratamento. Pesquisas de Donnelly et al. (2018) destacam a importância do apoio social e da comunicação eficaz entre pacientes, familiares e profissionais de saúde na tomada de decisões sobre o tratamento do câncer de mama. No entanto, a resistência à aceitação do encaminhamento para atendimento especializado, conforme observado neste caso, pode resultar em limitações no acesso a terapias mais avançadas e multidisciplinares, como a cirurgia oncológica e a terapia adjuvante.

A dedicação da paciente em comparecer regularmente aos procedimentos de limpeza na unidade básica de saúde destaca a importância do suporte contínuo e acessível para pacientes com câncer de mama avançado. No entanto, a interrupção posterior desses cuidados ressalta os desafios enfrentados pelas pacientes no enfrentamento das complexidades emocionais e físicas associadas ao tratamento da doença. De acordo com Gupta et al. (2019), as barreiras psicossociais, como o estigma do câncer e o medo do desconhecido, podem desempenhar um papel significativo na adesão e na descontinuidade do tratamento do câncer de mama.

A mudança de comportamento da paciente em relação aos cuidados médicos ressalta a necessidade de uma abordagem holística e sensível no tratamento do câncer de mama avançado. É essencial que os profissionais de saúde reconheçam e abordem os fatores sociais, culturais e emocionais que podem influenciar as escolhas de tratamento e a adesão aos cuidados médicos. Como enfatizado por Andersen et al. (2018), a prestação de cuidados centrados no paciente, com ênfase na comunicação aberta, no apoio emocional e na colaboração na tomada de decisões, é fundamental para melhorar os resultados e a qualidade de vida das pacientes com câncer de mama avançado.

 

CONCLUSÃO

 

Após analisar detalhadamente o relato de experiência da paciente enfrentando o câncer de mama, fica evidente a complexidade e os desafios enfrentados por mulheres em situações semelhantes. A trajetória dessa paciente destacou a importância do acesso precoce aos cuidados de saúde e da conscientização sobre os sinais e sintomas do câncer de mama, especialmente em comunidades de recursos modestos. A resistência da paciente ao tratamento convencional e sua busca por remédios caseiros ressaltam a necessidade de abordagens de saúde mais holísticas e culturalmente sensíveis, que considerem os valores e as crenças individuais dos pacientes.

Além disso, a dedicação da paciente em comparecer aos procedimentos de cuidados paliativos na unidade básica de saúde ressalta a importância do suporte contínuo e acessível para pacientes com câncer de mama avançado. No entanto, sua posterior desistência dos cuidados médicos destaca os desafios enfrentados por pacientes ao longo do processo de tratamento, incluindo as barreiras emocionais, sociais e culturais que podem influenciar suas decisões.

Este estudo reforça a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e centrada no paciente no tratamento do câncer de mama. Os profissionais de saúde devem estar cientes das complexidades individuais enfrentadas por cada paciente e buscar estratégias personalizadas para fornecer suporte adequado. Além disso, é crucial promover a conscientização pública sobre a importância do diagnóstico precoce e do acesso aos cuidados de saúde, visando melhorar os resultados e a qualidade de vida das mulheres afetadas pelo câncer de mama.

 

REFERÊNCIAS

 

ANDERSEN, M. R. et al. Breast cancer stigma: Why fear of treatment or palliative care might not be the same as fear of cancer. BMC Cancer, v. 18, n. 1, p. 394, 2018. Disponível em: https://doi. org/10.1186/s12885-018-4287-0.

 

BARBOSA, Michael Gabriel Agustinho et al. Alterações citólogicas e marcadores tumoais específicos para o câncer de mama. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 8, p. 59977-59992, 2020.

 

YOULDEN, D. R. et al. Incidence and mortality of female breast cancer in the Asia-Pacific region. Cancer Biology & Medicine, v. 15, n. 4, p. 732–742, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.20892/j. issn.2095-3941.2018.0085.

DONNELLY, T. T. et al. The influence of culture on breast cancer screening and early detection among Arab women: a scoping review. Asian Pacific Journal of Cancer Prevention: APJCP, v. 19, n. 9, p. 2533–2543, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.22034/APJCP.2018.19.9.2533.

 

GUPTA, R. et al. Factors influencing adherence to adjuvant endocrine therapy in breast cancer survivors: a scoping review. Breast Cancer Research and Treatment, v. 174, n. 2, p. 227–237, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10549-018-05047-3.

 

LIMA, Camila Gomes et al. Impacto do Diagnóstico e do Tratamento do Câncer de Mama em Mulheres Mastectomizadas. Ensaios e Ciência C Biológicas Agrárias e da Saúde, v. 24, n. 4, p. 426- 430, 2020.